Sobre a apresentação do espetáculo O B(r)ANCO DOS RÉUS NO DIA 15/11
É sempre muito difícil mensurar a força exponencial do encontro entre artista e público em um espetáculo teatral. Porém, na apresentação do monólogo O B(r)ANCO DOS RÉUS, na noite do último dia 15 de novembro, no Teatro do Centro de Cultura completamente lotado , o impacto causado pela peça silenciou todo o público num misto de consternação, de revel(ações) e de um grito coletivo entalado na garganta.

Não se tratava de um mero espetáculo, assim como concluiu o ator Wenderson Ferreira após hipnotizar o público em um “julgamento” que colocava em jogo a seletividade penal presente no nosso país. A ironia e a linha pericial que desvelou a violência sofrida pela população negra foram certeiras ao trazer Porto Seguro como o eixo protagonista do discurso e das estatísticas assustadoras que colocam a Bahia como um dos estados líderes do ranking da letalidade policial contra pessoas negras. Ao trazer à tona o caso de Victor Cerqueira, assassinado esse ano em Caraíva, a peça impactou o teatro inteiro com as vias sensíveis desveladas no palco perante silêncios coniventes e olhares acostumados com a banalização dos noticiários. O teatro inteiro não se conteve.
Para além da mera comoção: o choro, o silêncio cortante, o incômodo, a luta realizada pela mãe pedindo justiça, o movimento em curso @justiçaporvitinho lembrado e reforçado como uma fresta em meio à dor. Tudo isso foi destacado como algo passível de uma ação coletiva para que nenhuma vida seja esquecida, para que a memória reviva e cobremos por JUSTIÇA.
Ao misturar extratos pessoais com camadas ficcionais, esse espetáculo mexeu inteiramente com quem esteve presente porque arte e vida passam a ser a mesma coisa, estética e poética passam a ter a mesma tônica. É impossível sair do espetáculo sem que as inúmeras interrogações proferidas deixem de martelar em nossas cabeças, em nossos olhos hábeis nos diagnósticos, mas inertes em meio ao que a necropolítica trata de fazer com que caia no esquecimento.
Nenhuma vida a menos! Ecos desse espetáculo da Bifurca Produções Artísticas que além de necessário, é URGENTE.